Cansou. Sinceramente, cansou. Toda vez depois de clássicos, ouvir debates
esportivos sobre brigas e mortes em torcidas organizadas. Não que eles não devam falar disso, pelo contrário, é obrigação do jornalista passar para sociedade e,
em diversos momentos, opinar.
Entretanto, o quê cansou de verdade, não foram
jornalistas falando sem embasamento nenhum, como ocorre cotidianamente (não que
eu tenha muita experiência nesta questão, porém já vivi, li e ouvi muito à respeito),
e sim as desculpas. É, as desculpas. Àquelas dadas pela polícia de São Paulo (mesmo
não sendo ela a culpada pela briga de fato).
Vamos aos pontos deste problema. As torcidas organizadas de Palmeiras e Corinthians brigaram na Av. Inajar de Souza, na Zona Norte. Eu que não sou de
lá, sei que em todo clássico entre essas equipes, acontece briga nesta avenida.
Como eu sei? Bom, primeiro pelas redes sociais – a primeira briga que eu sei lá
foi em 2009, às 00:00 de um domingo, em um clássico entre Palmeiras e Corinthians,
em Presidente Prudente, e, é claro, que não foi a primeira no local.
Local da briga, até o Totó Automóveis sabe |
Depois, porque ano passado saiu na mídia, em agosto, nomesmo local, que culminou, horas depois, na morte do torcedor alvinegro, encontrado às margens do Rio Tietê. E por fim, a própria PM tem um mapa dos lugares onde
ocorrem as brigas das torcidas.
Pois bem, a começar daí, a briga já poderia ser evitada.
Sim, tinham duas viaturas da PM na via, mas todos sabem que os dez homens, no
máximo, que cabem nos carros, não impediriam uma confusão de 500 a 1.000
pessoas, munidas de barras de ferro, rojões, pedras, paus e armas de fogo - assim como os policiais, mas que, no caso dos homens de cinza, não podem ser
utilizadas na multidão, porque na área, milhares de cidadãos se deslocam e tem
até uma feira no dia. Então, o mínimo que deveria ser feito, seria
deslocar um contingente maior de homens. Assim como em alguns pontos da zona
sul, leste e centro.
Seguindo o raciocínio, isso é um problema de segurança
pública, pois os torcedores estavam a cerca de 13 km do estádio do
Pacaembu, e outra, pessoas com armas de
fogo, sem porte delas, com certeza.
Enfim, deixaram rolar. Por vontade ou falta de inteligência?
Vou partir do ponto da falta de inteligência, pois se for por vontade da própria
instituição, para que tenham motivos para o término das organizadas, é outra
falta de inteligência.
Depois do ocorrido, o quê fazer? Bom, se um estudante
mata alguma pessoa, ou um morador de favela trafica drogas, todos estudantes
são assassinos e todos “favelados” são traficantes?
NÃO! Então porque batem sempre na tecla de que a torcida
organizada tem que acabar, sendo que nem todos torcedores são ”marginais” como
todos gostam de falar? São cerca de 20 mil associados na Mancha Alviverde e
creio que mais de 50 mil na Gaviões da Fiel, e no caso, “apenas” mil pessoas de
ambas as torcidas. Não faz sentido algum acabar com as organizadas.
Proibirão a melhor parte do espetáculo. O batuque na
arquibancada, o bandeirão, o mosaico, a vibração. O estádio perde a alma!
Mancha Alviverde: alma das arquibancadas, fora delas,não é tão bonita assim |
E aqueles que brigam estarão lá, em todos os jogos. Falta
de inteligência ou não?
Torcida única também não é o caso, como vimos, brigas
acontecem a até 500 km de distância da
partida, e às vezes até 20 horas antes da peleja.
Ainda sobre os que brigam, eles gostam de brigar! Sim, como disse o comentarista Mauro Cezar Pereira, quando analisava o assunto, por mais incrível que pareça, eles gostam de brigar. Contudo, na minha opinião, não
é tão incrível assim.
Filmes de luta, lutas ao vivo, como o MMA, que este blog
trata, todos têm, de uma forma ou de outra, a ação, e algumas vezes a briga.
Não sou contra nenhum dos dois, mas temos que pensar que, a mesma emissora que
faz novela com lutadores, e reality show, mostrando que eles não são pessoas
más, como de fato não são, poderia analisar esses “marginais” de outra forma e não
banalizando isso com o simples fato da torcida organizada acabar e eles, consequentemente,
também.
Por que ele é um lutador, e os outros são "apenas" marginais? Dinheiro, audiência? |
Outra que deveria estudar mais, novamente, é a PM. Em entrevista a Paulo Vinicius Coelho, o tenente-coronel Carlos Celso Savioli, comandante do 2o Batalhão de Choque da Polícia Militar, e responsável pela segurança nos estádios, mostrou TOTAL despreparo para a função.
Não sabia, ao menos, sobre as leis, que
hoje são rígidas, mas não são cumpridas. Ponto fundamental e único que acabaria
com todos os problemas, mas que deixarei para tratar no final.
O tenente-coronel também sequer havia
ido a outros estados, para não dizer a outros países, como a Inglaterra, já famosa pelos hooligans, que não foram eliminados, mas sim controlados,
Argentina, onde tem os famosos barra-bravas, que apesar de torcer incondicionalmente
por seus clubes, como é muito destacado pela mídia daqui, são demasiadamente
violentos, o que não é dito (isso mostra outra vez que o banimento da torcida
só tiraria a parte boa dela, que é nas arquibancadas), entre outros países do
leste europeu que são marcados por violência nos estádios, como a Sérvia, só
para deixar um exemplo.
Culpa dele? Também, mas acima de
tudo da instituição, que se quer realmente acabar com a violência, deveria estudar este fenômeno, que, querendo ou não, atrai muita
gente, pela adrenalina, pela emoção de participar de uma briga. Como disse Elijah Wood protagonista do filme
Hooligans (Green Street Hooligans), as brigas de torcida são o Clube da Luta, da classe operária, são atrativas para diversas pessoas.
Enfim, o post foi bastante extenso, mas acho que deu para tocar, pelo menos, nos aspectos mais importantes deste tema. Acabar com as organizadas não é o problema. Proibir uma facção, só tirará o espetáculo das arquibancadas, e dificultará na hora de identificar os agressores. O quê precisa realmente, voltando ao ponto que deixei aberto ainda acima, é punir de acordo com a lei. Simples e rápido.Como foi feito na Inglaterra.
Ainda
existirão milhares de sujeitos querendo brigar, ainda terão brigas, mas muitos
pensaram antes de ir, porque eles
saberão que serão presos. E na cadeia, eles não irão mais ameaçar cidadão comuns,
como de fato ameaçaram (apesar do Capitão Gonzaga, também do 2º batalhão, relevar. Se for assim, atirarei rojões, pedras, além de utilizar armas de fogo,
em várias avenidas movimentas, e há de quem falar que estou pondo em risco a
vida de alguém).
Assim, cabe à polícia pensar nisso e ver se é melhor pra ela acabar de vez com este
problema, ou continuar disfarçando que resolve, enquanto os maus elementos
fingem que não irão fazer mais.
Ah, só para lembrar, no próximo
clássico, leia isto novamente e não precisa nem ser daqui de São Paulo, não!
Não há como discordar: a atitude de 1/50 de uma torcida organizada não pode corresponder, ou melhor, ser atribuida ao resto do grupo pelo simples fato de vestirem, no sentido literal, a mesma camisa. Tão pouco se pode negar que a violência é intrinseca ao indivíduo que, ao unir-se a outros indivíduos com a mesma característica, toma coragem para agir como vemos nos telejornais, no entanto, esses (indivíduos violentos) se uniriam, e se unirão, de forma igual ainda que não existissem torcidas organizadas. A extinção das torcidas organizadas me parece, dessa forma, apenas mais uma solução ineficiente e inadequada.
ResponderExcluirQue a beleza dos estádios permaneçam, que a inteligência de nossa polícia seja inteligente-de fato-, e que as rivalidades se limitem ao campo de futebol.